quinta-feira, 26 de julho de 2018

A Banalização do uso do termo “Profético”!


De tempos em tempos os modismos se renovam, e no meio cristão evangélico não é diferente. Alguém um dia disse que “Os alemães inventaram a teologia, os americanos estragaram, e os brasileiros comeram” (autor desconhecido). A grande parte dos modismos ou movimentos que se encontram em solo tupiniquim são importados. Nós temos a tendência de copiar a patifaria do besteirol gospel que tanto faz mal ao evangelho, pelo simples anseio de crescer numericamente, mas esquecemos que nem sempre quantidade é qualidade.
            É impressionante o fetiche que o neopentecostalismo tem pelo mágico e pelo místico. A produção de um suposto ambiente “espiritualizado” se tornou a especialidade desse movimento. Para tanto, o que se julga “espiritual” precisa ser customizado para atingir os seus devidos fins. Mas para não falarmos de tantos adereços que compõem o culto neopentecostal, vamos pensar somente na banalização que se tem feito, do uso do termo profético.
            Tudo que precisa parecer espiritual leva o nome de profético, ou seja, o termo é como fosse um tipo de ISO9001 “celestial”, onde como um carimbo mágico e místico, valida como fidedigno, fiel e bíblico, aquilo que é produção meramente humana.
O culto é profético, a dança é profética, o clamor é profético, adoração profética, ativação profética (o que é isso?), alinhamento profético, ato patético, ops, profético, e por aí vai. Acrescenta-se ao final de qualquer coisa o termo profético, pronto, aí está algo “espiritual”, #SQN (só que não).
            Mas o leitor pode prontamente perguntar, mas no Antigo Testamento não havia a ação profética? Sim, todos aqueles que eram vocacionados por Deus para exercer o oficio Profético eram encarregados para profetizar, o que não tem nada a ver com o Novo Testamento, lembrando que João Batista foi o último dos profetas do A.T., “A Lei e os Profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas-novas do Reino de Deus..” Lc.16.16.
            Outro detalhe que precisa ser lembrado, é que dom de profecia, não tem a ver com o oficio profético veterotestamentário. No N.T, foi dado dons aos homens, e um deles é o dom de profetizar. Logo ministério profético é uma coisa, e dom de profecia ou profetizar é outra totalmente diferente.
            Talvez a única passagem que encontramos o uso do termo é na Versão NVI, em 2Rs. 2.9 “Depois de atravessar, Elias disse a Eliseu: “O que posso fazer em seu favor antes que eu seja levado para longe de você?” Respondeu Eliseu: “Faze de mim o principal herdeiro de teu espírito profético”, no Hebraico literal: Dá-me porção dupla do teu espírito.
E também na King James em, 1Sm. 19.21, “Logo Saul foi informado do que ocorrera, e apressou-se em mandar outros mensageiros, os quais, da mesma maneira, entraram em êxtase. Em seguida, Saul mandou um terceiro grupo, e também estes foram tomados por aquele transe profético”. As demais traduções como NVI, ARC, ARA, NTLH traduzem por profetizavam ou apenas transe, não incluindo o termo profético.
Enfim, o que quero levar o leitor a pensar, é que a apropriação do termo profético no culto cristão é Anacrônico, e descabido de contexto. E o pior de tudo, é usá-lo como Merchandising:                    
é uma ferramenta de Marketing, formada pelo conjunto de técnicas responsáveis pela informação e apresentação destacada dos produtos no ponto de venda, de maneira tal que acelere sua rotatividade”.
A distinção que se faz de cultos cristãos e cultos cristãos, é que alguns precisam incitar o mágico e místico para o consumidor final, diga-se de passagem - alguém que é fascinado pelo oculto – para que a lei da oferta e procura cumpra seu papel, também no ambiente Cristão.
Já Percebeu que nem Cristo, nem qualquer dos apóstolos tentaram espiritualizar o evangelho? No momento mais singular e importante do N.T., em atos 2, quando da descida do Espírito Santo, Pedro apenas faz a seguinte citação: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel”. At. 2.16, e logo passa expor-lhes as escrituras para que mostrar que ela se cumpre em Cristo.
Duas coisas podem acontecem diante desse suposto momento e cenário “profético”. Primeiro, podemos assistir a bestialização dos que se imergiram de tal forma nesse dito ambiente profético, que não consiga distinguir mais o que é o real e simples, corriqueiro e cotidiano. O culto sem pirotecnia, da palavra pela palavra, pode perder a sua “graça”.
Segundo, pode haver um enjoo, repulsa, entojo, asco, aversão, e desta forma um desejo por algo mais sólido e concreto, por algo mais simples e menos “espiritualizado”. E desta forma, um retorno a palavra, consequentemente sem qualquer adereço de pseudo espiritualidade, e que aliás, está havendo uma migração de pessoas dos badalados “cultos proféticos”, em busca de palavra e consistência bíblica.
Me preocupo seriamente com a banalização da espiritualidade, de vermos cada vez mais espiritualidade sem o Espírito. Não se engane, o evangelho é simples, os homens é que complicam ele!

Obrigado!

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