A Banalização do uso do termo “Profético”!
De tempos em tempos os modismos se renovam, e no meio cristão evangélico não é diferente. Alguém um dia disse que “Os alemães inventaram a teologia, os americanos estragaram, e os brasileiros comeram” (autor desconhecido). A grande parte dos modismos ou movimentos que se encontram em solo tupiniquim são importados. Nós temos a tendência de copiar a patifaria do besteirol gospel que tanto faz mal ao evangelho, pelo simples anseio de crescer numericamente, mas esquecemos que nem sempre quantidade é qualidade.
É impressionante o fetiche que o neopentecostalismo tem
pelo mágico e pelo místico. A produção de um suposto ambiente “espiritualizado”
se tornou a especialidade desse movimento. Para tanto, o que se julga
“espiritual” precisa ser customizado para atingir os seus devidos fins. Mas
para não falarmos de tantos adereços que compõem o culto neopentecostal, vamos
pensar somente na banalização que se tem feito, do uso do termo profético.
Tudo que precisa parecer espiritual leva o nome de
profético, ou seja, o termo é como fosse um tipo de ISO9001 “celestial”, onde
como um carimbo mágico e místico, valida como fidedigno, fiel e bíblico, aquilo
que é produção meramente humana.
O
culto é profético, a dança é profética, o clamor é profético, adoração
profética, ativação profética (o que é isso?), alinhamento profético, ato
patético, ops, profético, e por aí vai. Acrescenta-se ao final de qualquer
coisa o termo profético, pronto, aí está algo “espiritual”, #SQN (só que não).
Mas o leitor pode prontamente perguntar, mas no Antigo
Testamento não havia a ação profética? Sim, todos aqueles que eram vocacionados
por Deus para exercer o oficio Profético eram encarregados para profetizar, o
que não tem nada a ver com o Novo Testamento, lembrando que João Batista foi o
último dos profetas do A.T., “A Lei e os
Profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as
boas-novas do Reino de Deus..” Lc.16.16.
Outro detalhe que precisa ser lembrado, é que dom de
profecia, não tem a ver com o oficio profético veterotestamentário. No N.T, foi
dado dons aos homens, e um deles é o dom de profetizar. Logo ministério
profético é uma coisa, e dom de profecia ou profetizar é outra totalmente
diferente.
Talvez a única passagem que encontramos o uso do termo é
na Versão NVI, em 2Rs. 2.9 “Depois de
atravessar, Elias disse a Eliseu: “O que posso fazer em seu favor antes que eu
seja levado para longe de você?” Respondeu Eliseu: “Faze de mim o principal
herdeiro de teu espírito profético”, no Hebraico literal: Dá-me porção
dupla do teu espírito.
E
também na King James em, 1Sm. 19.21, “Logo
Saul foi informado do que ocorrera, e apressou-se em mandar outros mensageiros,
os quais, da mesma maneira, entraram em êxtase. Em seguida, Saul mandou um
terceiro grupo, e também estes foram tomados por aquele transe profético”.
As demais traduções como NVI, ARC, ARA, NTLH traduzem por profetizavam ou
apenas transe, não incluindo o termo profético.
Enfim,
o que quero levar o leitor a pensar, é que a apropriação do termo profético no
culto cristão é Anacrônico, e
descabido de contexto. E o pior de tudo, é usá-lo como Merchandising:
“é uma ferramenta de Marketing, formada pelo
conjunto de técnicas responsáveis pela informação e apresentação destacada dos
produtos no ponto de venda, de maneira tal que acelere sua rotatividade”.
A
distinção que se faz de cultos cristãos e cultos cristãos, é que alguns precisam
incitar o mágico e místico para o consumidor final, diga-se de passagem -
alguém que é fascinado pelo oculto – para que a lei da oferta e procura cumpra
seu papel, também no ambiente Cristão.
Já
Percebeu que nem Cristo, nem qualquer dos apóstolos tentaram espiritualizar o
evangelho? No momento mais singular e importante do N.T., em atos 2, quando da
descida do Espírito Santo, Pedro apenas faz a seguinte citação: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel”.
At. 2.16, e logo passa expor-lhes as escrituras para que mostrar que ela se
cumpre em Cristo.
Duas
coisas podem acontecem diante desse suposto momento e cenário “profético”.
Primeiro, podemos assistir a bestialização dos que se imergiram de tal forma
nesse dito ambiente profético, que não consiga distinguir mais o que é o real e
simples, corriqueiro e cotidiano. O culto sem pirotecnia, da palavra pela
palavra, pode perder a sua “graça”.
Segundo,
pode haver um enjoo, repulsa, entojo, asco, aversão, e desta forma um desejo
por algo mais sólido e concreto, por algo mais simples e menos
“espiritualizado”. E desta forma, um retorno a palavra, consequentemente sem
qualquer adereço de pseudo espiritualidade, e que aliás, está havendo uma migração
de pessoas dos badalados “cultos proféticos”, em busca de palavra e consistência
bíblica.
Me
preocupo seriamente com a banalização da espiritualidade, de vermos cada vez
mais espiritualidade sem o Espírito. Não se engane, o evangelho é simples, os
homens é que complicam ele!
Obrigado!