sábado, 22 de junho de 2019

O pardal e o retrovisor!


          Já há dias um pardal insiste em permanecer na frente do espelho retrovisor do carro. Ele diariamente faz esforço ora para ficar batendo asas na frente do espelho, ora em cima dele. Quando ele está em cima, o prejuízo pra mim é um pouco maior, pois o mesmo encontra alívio do seu ventre, o que depois de seco, dá um bom trabalho para lavar.
                O que mais me impressiona é que o pardal não sabe distinguir a realidade da ficção, não sabe se o que vê é real, ou somente uma sombra. Independente do seu grau de raciocínio (se é que ele tem), ou instinto, duas coisas podemos pensar como se fossemos um pardal. Primeiro, ou ele está vendo outro de si, ou outra, talvez uma pretendente, ou ainda, a si mesmo. Se o que ele vê, e pensa (por instinto ou razão rs...), é outro de si, ele está inquieto, talvez querendo briga, talvez demarcando o espaço, do qual acredita ser seu. Se o que ele vê, é uma possível pretendente, há de igual modo um esforço para encantar sua parceira, mesmo que isto custe muito esforço em bater as asas, e ainda muita sujeira pra mim.
                Esse pardal me lembra muitos os humanos, essa categoria de ser pensante que se diz racional. A exemplo do pardal, temos investido muito dos nossos esforços para dizer o que somos, ou o que não somos, e ainda, lutamos na tentativa de impressionar alguém, seja pelos nossos dons, talentos, corpo, posses, cultura etc. O que não nos damos conta como o pardal, é que essa realidade externa não existe. É tudo fruto da sua cabeça. É ele que está lutando para marcar território, ou se auto afirmar, mas que fora da cabeça do pardal, esse mundo não existe, e isso não passa de um espelho que apenas reflete seus próprios anseios e desejos.
                O pardal visto pelo pardal no retrovisor, não existe, é apenas um reflexo, uma sobra que mascara a sua realidade, no entanto, ele insiste em acreditar que exista ou um pardal desafiando-o, ou uma pardal que lhe dá bolas, ou ainda, talvez como Narciso, ele permanece nessa luta, apenas para se ver e admirar-se.
                Coitado do pardal, quem falará para ele que o que ele vê não passa de uma ilusão dos sentidos? Quem dirá a ele que o que ele vê, pensa e percebe não existe, e que tudo isso não passa de um reflexo dele mesmo? Se um outro pássaro mais sábio (se é que existe nessa escala), dissesse a ele que ele está enganando a si mesmo, ele acreditaria? Ou será que o pardal ficaria chateado com o pássaro sábio, e o acusaria de inveja ou ciúmes? Não sei. Sei que em ambos os casos, a dificuldade existe, porque ninguém há de falar a esse pobre pardal que ele está perdendo tempo enganando a si mesmo, e se existisse um pássaro mais sábio que conhece a realidade, talvez não se arriscaria em criar conflitos com o ego do pardal.
                Enfim, para amenizar a dor e sofrimento do pardal, fui e coloquei um pano no retrovisor, acabando de uma vez com sua ilusão. Mas quando retorno ao carro, o pardal encontrou o outro retrovisor...
                Feliz do pardal, que com apenas mais um pano eu colocarei fim no seu sofrimento, e o trarei ao mundo real.
Pobre e infeliz homem, que não encontra quem coloque um pano em seus espelhos!

Por. Jean Carlos Pereira de Souza  

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