O pardal e o retrovisor!
Já há dias um pardal insiste em
permanecer na frente do espelho retrovisor do carro. Ele diariamente faz
esforço ora para ficar batendo asas na frente do espelho, ora em cima dele.
Quando ele está em cima, o prejuízo pra mim é um pouco maior, pois o mesmo
encontra alívio do seu ventre, o que depois de seco, dá um bom trabalho para
lavar.
O
que mais me impressiona é que o pardal não sabe distinguir a realidade da
ficção, não sabe se o que vê é real, ou somente uma sombra. Independente do seu
grau de raciocínio (se é que ele tem), ou instinto, duas coisas podemos pensar como
se fossemos um pardal. Primeiro, ou ele está vendo outro de si, ou outra,
talvez uma pretendente, ou ainda, a si mesmo. Se o que ele vê, e pensa (por
instinto ou razão rs...), é outro de si, ele está inquieto, talvez querendo
briga, talvez demarcando o espaço, do qual acredita ser seu. Se o que ele vê, é
uma possível pretendente, há de igual modo um esforço para encantar sua
parceira, mesmo que isto custe muito esforço em bater as asas, e ainda muita
sujeira pra mim.
Esse
pardal me lembra muitos os humanos, essa categoria de ser pensante que se diz
racional. A exemplo do pardal, temos investido muito dos nossos esforços para
dizer o que somos, ou o que não somos, e ainda, lutamos na tentativa de
impressionar alguém, seja pelos nossos dons, talentos, corpo, posses, cultura
etc. O que não nos damos conta como o pardal, é que essa realidade externa não
existe. É tudo fruto da sua cabeça. É ele que está lutando para marcar
território, ou se auto afirmar, mas que fora da cabeça do pardal, esse mundo
não existe, e isso não passa de um espelho que apenas reflete seus próprios
anseios e desejos.
O
pardal visto pelo pardal no retrovisor, não existe, é apenas um reflexo, uma
sobra que mascara a sua realidade, no entanto, ele insiste em acreditar que
exista ou um pardal desafiando-o, ou uma pardal que lhe dá bolas, ou ainda,
talvez como Narciso, ele permanece nessa luta, apenas para se ver e admirar-se.
Coitado
do pardal, quem falará para ele que o que ele vê não passa de uma ilusão dos
sentidos? Quem dirá a ele que o que ele vê, pensa e percebe não existe, e que
tudo isso não passa de um reflexo dele mesmo? Se um outro pássaro mais sábio
(se é que existe nessa escala), dissesse a ele que ele está enganando a si
mesmo, ele acreditaria? Ou será que o pardal ficaria chateado com o pássaro sábio,
e o acusaria de inveja ou ciúmes? Não sei. Sei que em ambos os casos, a
dificuldade existe, porque ninguém há de falar a esse pobre pardal que ele está
perdendo tempo enganando a si mesmo, e se existisse um pássaro mais sábio que
conhece a realidade, talvez não se arriscaria em criar conflitos com o ego do
pardal.
Enfim,
para amenizar a dor e sofrimento do pardal, fui e coloquei um pano no
retrovisor, acabando de uma vez com sua ilusão. Mas quando retorno ao carro, o
pardal encontrou o outro retrovisor...
Feliz
do pardal, que com apenas mais um pano eu colocarei fim no seu sofrimento, e o
trarei ao mundo real.
Pobre e
infeliz homem, que não encontra quem coloque um pano em seus espelhos!
Por. Jean Carlos Pereira de Souza