A IMPORTÂNCIA DA ATUALIZAÇÃO NO MINISTÉRIO PASTORAL
Há
quem diga que servir a Deus nos tempos de Pedro ou Paulo era mais fácil, talvez
por acreditar que as manifestações de Deus eram mais frequentes, e com isso
havia mais “poder” de Deus à disposição da igreja e de seu povo. Porém, na
prática, o que percebemos é que não era tão fácil, ou mais fácil que hoje. É um
engano pensar que a nascente igreja vivia em perfeita harmonia e paz, pois além
das questões internas, ainda havia as perseguições impostas aos crentes pelo
Estado Romano, e quando eram pegos, poderiam ser chicoteados e até mesmo
levados à morte.
Mas,
e ser pastor nos dias de Paulo? Pastorear sob pressão não é bom nem naquele,
nem no tempo presente. Contudo, naquele, a pressão dizia respeito a
“clandestinidade” da fé, uma vez que esta era considerada uma ameaça à pax
romana, e transgressora da ordem. Pastorear sob a influência do judaísmo e da
filosofia grega, principalmente o Epicurismo e o Estoicismo (cf. At. 17.18),
também era um grande desafio, principalmente para sustentar doutrinariamente o
Cristo ressurreto. Outro problema daquele tempo, era a questão logística, e a
grande demora em que as informações se desenvolviam. Paulo, provavelmente foi o
que mais sentiu as dificuldades do pastoreio epistolar, ou em forma de
missivas, dado a grande demora que estas exigiam para chegar ao destinatário,
em média de dois a três meses, dependendo da localidade.
Porém,
não estamos nos dias de Paulo, mais de 2 mil anos se passaram, e mudanças sem
precedentes aconteceram, passando a exigir uma nova didática, novos
competências e diversificados talentos para este novo tempo, sem, contudo,
perder a essência da palavra de Deus. De certa forma, podemos dizer que o
ministério pastoral precisou ser atualizado, reformulado, reciclado e renovado.
Podemos
perceber as mudanças impostas ao ministério pastoral, na medida em que a sociedade
muda e se transforma. Se pensarmos a sociedade brasileira nos últimos 50 anos,
veremos nitidamente essas transformações. Nas décadas de 1970/80, tínhamos uma
igreja de modo geral ascética, quase separada totalmente do mundo, com
particular ênfase na questão dos usos e costumes e com um apelo direcionado às
questões escatológicas. Nesse período, muitas pessoas ainda viviam na área
rural, havia pouca e lenta comunicação, onde algumas igrejas utilizavam-se
apenas o rádio como forma de propagação do evangelho, pois a TV era considerada
um instrumento não sacro.
A
partir da década de 1990, a televisão se tornou um item indispensável na casa
dos brasileiros, tornando-se um grande desafio para as igrejas e os pastores,
pois nas décadas anteriores a mesma era vista como anátema, mas, no período pós
década de 90, ela passou a ser utilizada como canal de propagação do Evangelho.
O pastor por sua vez, em relação ao uso da televisão, por parte dos crentes,
oscilava entre o sagrado e o profano, todavia, seriam as decisões de sua
denominação que validariam ou não o uso desse eletrônico.
Cabe
destacar, que as principais mudanças aconteceram, a partir dos anos 2000. Com o
advento da internet e com a popularização do celular a comunicação entre o
pastor e suas ovelhas foi facilitada. O processo de adaptação do pastor às
novas tecnologias de informação e comunicação foi desafiador. Com o surgimento
das redes sociais, aplicativos de mensagens e a velocidade das informações, o
pastor foi desafiado, sob pena de tornar-se obsoleto, a acompanhar as
modificações tecnológicas e delas se apropriar, tanto na espera da vida pessoal
quanto ministerial.
O
pastor, além do dever de cultivar uma vida devocional abundante, ser dedicado
ao estudo da Palavra e cortês no trato com o rebanho, precisa também estar
atento às novas tecnológicas da chamada era digital. Em um mundo onde tudo se
transforma velozmente, o pastor precisa gerenciar até mesmo o que acontece nos
grupos de aplicativos, como o Telegram e WhatsApp da igreja, estar atento ao
que está sendo veiculado na mídia, saber qual o assunto do momento, etc. São as
novas demandas do ministério pastoral.
O
pastoreio no século XXI nos levou a uma necessidade de atualização ministerial
jamais imaginada. Cabe salientar, entretanto, que a essência do chamado
pastoral continua estritamente o mesmo, o que mudou foi a forma como o pastor
interage hoje com suas ovelhas. Ele tem de pastorear e ao mesmo tempo
“competir” de modo digital. Ele foi desafiado a ir para as redes sociais e
publicizar os eventos e o andamento de sua igreja. Isso acabou por abençoar a
vida de muitas pessoas que, de alguma forma, não poderiam ir à igreja e, com as
mídias sociais, passaram a ter um acesso virtual. No entanto, a competição
reside no fato de que a era digital apresentou novas possiblidades
eclesiásticas e mesmo pastorais para os fiéis, que estão se tornando cada vez
mais exigentes.
Podemos
concluir, portanto, que se a essência do ministério pastoral e o seu conteúdo
continuam inalteráveis, o que deve ser mudado é a forma de como o pastor vai
interagir com esse conteúdo, sobretudo, como poderá utilizar as ferramentas do
nosso tempo, em prol ao Reino de Deus? O conselho de Paulo aos Efésios pode nos
ajudar, Efésios 5.15- 16: “Portanto, sejam cuidadosos em seu modo de vida. Não
vivam como insensatos, mas como sábios. Aproveitem ao máximo todas as
oportunidades nestes dias maus”.