quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A providência no caminho! Jo. 6.1-15 - 22-59

A multidão errante e sem perspectivas de sua existência, encontra no caminho, a providencia sem precedentes.

            Se voltarmos nossos olhos a pelo menos dois mil anos atrás, a boa notícia não será de política, embora alguns a encararam como uma esperança nesse sentido. A boa notícia não é econômica, embora alguns acreditaram que Israel novamente voltaria aos seus dias áureos, como foi nos tempo de Davi e Salomão. A boa notícia é que uma luz de esperança apontou no fim do túnel. E o maior assunto em Jerusalém e região dos últimos anos, é que um homem simples, de Nazaré, caminha com pecadores, cobradores de impostos, prostitutas etc. Alguns creem, outros duvidam. Uns o chamam de filho de Davi, outros de blasfemo e pecador. Enfim, ele é um novo paradigma em Israel, um líder nunca visto antes. Então vamos atrás dele...
           
A multidão mesmo errante segue Jesus. Talvez curiosa ou crédula, pois Cristo faz aquilo que há muitos anos não se vê: Sinais!

            Não só nos relatos da multiplicação dos pães e peixes, numerosa multidão segue Jesus. Por que o seguia? O que Ele tem para oferecer? Será que ela aguardava um sinal? O texto no vrs. 2 nos informa que sim, sinais são a causa da multidão em um primeiro momento, a busca de Jesus. Todavia, a multidão sem perceber se entrega no tempo e no espaço. Estão longe de casa em pleno deserto, o dia vai declinando, não se alimentaram, estão atentos a cada movimento do Mestre de Israel. Eles querem vê-lo, tocá-lo, senti-lo. O que a multidão tem de esperança nesse momento? O Judaísmo há muito tempo se degenerou em mero legalismo. As lideranças se tornaram opressoras, Deus havia ficado mais de quatrocentos anos sem se comunicar com seu povo. O óbvio aconteceu, a boa notícia, a mais falada e comentada em Israel, é que Jesus está dando sinais visíveis de que ele é o Cristo, filho do Deus vivo, o messias esperado. A multidão errante, não tem outra perspectiva a não ser, seguir os passos do novo mestre de Israel.
           
            A multidão errante prepara um caminho para Cristo trabalhar a fé dos discípulos!

            Este é o único milagre da bíblia sagrada que aparecem nos quatro evangelhos. Mas em João, ele se torna peculiar, pois se nos três anteriores os discípulos se preocuparam com a multidão, neste evangelho é Jesus o meio da ação. No vrs. 5 o texto nos informa que Ele testa a fé de Felipe, “Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que havia de fazer” v.6. O controle e soberania de todas as coisas estavam e estão com Ele. Enquanto nos três primeiros evangelhos a alternativa apontada pelos discípulos era, “Despede-os, para que vão aos lugares e aldeias circunvizinhas, e comprem pão para si; porque não têm que comer” Mc. 6.36., em Cristo a solução já estava pronta, a providência já estava a caminho. Felipe incrédulo responde ao Senhor, precisamos de pelo menos duzentos denários ou dinheiros e ainda assim não bastarão para essa multidão. Vale lembrar que um denário correspondia a uma jornada de trabalho, logo, precisaria de duzentos dias de trabalho para alimentar a multidão. Quase impossível não é mesmo? Mas eles ainda não conheciam o Deus da providência em Cristo Jesus.

            A multidão errante, mesmo sem saber, está colaborando para o milagre que está a caminho!

            Nos evangelhos anteriores Jesus da um imperativo aos discípulos: Dai-lhes vós mesmos de comer. Aqui em João, já aparece os discípulos representados por André, dizendo que havia um rapaz que tinha cinco pães e dois peixes, mas emenda: “mas isto que é para tanta gente”. Ou seja, não resolveria o problema de forma nenhuma. Diante da impossibilidade, Jesus transforma em possibilidade. O que a multidão tinha? Já foi dito, apenas cinco pães e dois peixes. Jesus sabe usar o que tem nas mãos. Jesus sabe o valor das pequenas coisas, e sabe que o milagre de Deus, nem sempre vem do macro, mas do micro. Assim foi com Moisés, o pequeno cajado bastou para abrir o grande mar. Assim foi com Sansão, uma queixada de jumento se tornou arma para matar mais de mil, e assim foi com Elias, uma pequena nuvem do tamanho da mão de um homem, regou toda Israel e floresceu seus campos. Jesus pede para que a multidão se assente em grupos, e agradece o que tem nas mãos, e reparte entre todos. Absolutamente todos se saciaram, e ainda sobraram dos pães, doze cestos cheios.

            A multidão ora errante, não só experimente a providência divina, mas também prova de mais um sinal messiânico!

            Se a motivação da multidão era ver sinais, ai está. No meio desse processo, muito mais do que milagre se efetuou. Jesus se compadece da multidão, pois “estavam desgarradas como ovelhas que não tem pastor”; Jesus passa a ensiná-las; Jesus não só se compadece, mas sua compaixão se torna em ação, “daí-lhes de comer”; Jesus trabalha a fé dos discípulos; Jesus trás providência a multidão faminta e Jesus mais uma vez, manifesta um sinal messiânico. O caminho a partir daqui esboçado por Jesus a multidão, estava muito além de milagres, sinais ou providência divina. Jesus queria mais que isso, um caminho mais nobre, o caminho do evangelho. A providência que Jesus intentava no coração da multidão, era que o buscassem além dos sinais, mas o buscassem como o Cristo, filho do Deus vivo!

Jesus deseja ensinar um novo caminho a multidão, um caminho para que conheçam o verdadeiro pão, o pão que desceu do céu! - Jo. 6.22-59

            Jesus está caminhando com a multidão, a alimenta, a consola, mas chegou a hora de exortá-los a motivação correta. O que Jesus percebe e só Ele tem esse poder - o de conhecer o coração dos homens - é que a multidão, não o busca somente pelos sinais. Sinais aqui apontados por Jesus, como messiânicos. Se no início do capítulo seis, o texto nos diz que o povo o buscava por causa dos sinais que ele fazia, no verso vinte e seis, Cristo trás uma forte acusação, “Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes” v.26. A multidão já tem sinais suficientes para crer. Mas a pergunta que não quer calar é: então porque não creram? O que Jesus está dizendo é que pelos sinais miraculosos realizados por Ele, a multidão deveria crer e muito, mas ao contrário, os sinais já não são novidade, já não importam, a multidão busca Cristo por benefícios do aqui e agora, ou seja, Ele a alimenta.

Jesus deseja saciar a verdadeira fome da multidão.

            Não, eles ainda não entenderam, ainda não conseguem crer, e continuam a indagar a Cristo. “Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que operas tu?” v.30. O capítulo seis de João muito se assemelha aos nossos dias. Uma multidão faminta, não pelo pão da vida, o pão que desceu do céu, mas pelo pão de cada dia somente. Talvez temos aqui um resumo de todo evangelho, o evangelho que ensina buscarmos primeiro o Reino de Deus, e as demais coisas desta terra nos serão acrescentadas. A multidão titubeia, vacila e se contradiz, no vrs. 14 eles mesmos afirmam, “Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo”. Mas por que depois duvidam? Porque ainda não conheceram a Cristo de fato, ainda não entenderam o caminho que devem seguir. O caminho que Cristo quer ensinar a multidão é o caminho da fé Nele mesmo, como enviado de Deus. Jesus quer ir muito além da comida que perece, mas aponta para um banquete eterno que só Ele e por Ele pode ser proporcionado, “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede” v.35. Jesus quer ser muito mais que uma providência do aqui e agora, Ele sinaliza para algo nobre, sublime, que terá desdobramentos eternos. Quem comer o pão que desceu do céu, jamais terá fome, será saciado para sempre. A providência para eles significa apenas saciedade para esta vida. Cristo está além do caminho errante da multidão, Ele encerra os discursos acerca do pão afirmando que quem não comer Dele, ou seja, da sua carne e sangue, não teriam vida eterna.

Jesus é o único caminho que pode livrar a multidão da perdição.


            Se a multidão necessitava de uma direção, um norte, um foco, agora ela encontrou, o caminho chama-se Cristo. Ele em sua missão dada pelo pai, trás garantias à aqueles a qual o pai deu a Ele. “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia” v.39. O verdadeiro e único caminho que realmente Cristo está interessado, é o caminho conduzido e guiado pela fé Nele, pois através Dele nossa fome será saciada para sempre através da providência divina. Se alimente desse pão...

sábado, 3 de outubro de 2015

O CAMINHO MAIS CURTO PARA O ENCONTRO!

por Sebastião Júnior*

Estamos diante de um encontro improvável de um judeu com uma samaritana, digo isso, porque, normalmente, a antipatia entre os dois não permitiria que judeus, passando pela Judéia, a caminho da Galiléia, passasse por Samaria. A opção do caminho não seria o que Jesus fez, mesmo sendo o caminho mais curto; tanto os judeus, como os samaritanos fariam a opção por outro caminho, uma rota pela Transjordânia. Tão grande era aversão uns pelos outros. 


Após os assírios conquistarem Samaria todos os israelitas foram despojados de suas posses, a terra foi sendo povoada com estrangeiros que se casaram com os israelitas sobreviventes e aderiram, de alguma forma, à antiga religião assíria. 

Após o exílio, os judeus voltam para Jerusalém e ao constatar o surgimento dos samaritanos, passam a tê-los como rebeldes políticos, como mestiços raciais, cuja religião estava manchada por vários elementos inaceitáveis. Tais como: levantaram um templo rival no monte Gerizim, que depois foi destruído pelo governo Judeu, intensificando os conflitos religiosos e teológicos; os samaritanos tinham sua própria herança religiosa baseada no Pentateuco, não aceitavam os outros livros da Bíblia hebraica como canônicos; e, sua adoração acontecia no monte Gerizim e não em Jerusalém. 

Para entendermos o significado desse encontro, é fundamental conhecer a distância cultural, religiosa e teológica de Jesus com a Samaritana. Não são apenas alguns kilometros que a rota da Transjordânia proporcionava evitar, estamos falando de um conflito que somente o evangelho pode cessar. 

Agenda disponível para o encontro. 

“Era lhe necessário...” versículo 4. 

Não é apenas uma necessidade geográfica, ou física do verbo que realmente se tornou carne, evidenciando sua humanidade como um viajante cansado procurando descanso e refrigério ao meio-dia, sentou-se para descansar. 

Interessante que é em meio ao cansaço do Mestre que descansamos, diante da nossa caminhada pesada pelo fardo que carregamos. Sua agenda não esta no campo da urgência, de alguém que não para, não ouve, pelo contrario, a sua agenda é um convite para descansarmos nele. A beleza da graça de Deus está nisso, que, em Cristo, o véu se rasgou, e Deus não é mais alguém que se encontra através dos caminhos religiosos, Ele está a beira do poço, se revelando para pecadores cansados. Nenhuma religião, cultura, geografia são donos de sua agenda. O caminho está aberto para os sedentos, como diz o profeta “Vós que tendes sede, vinde ás águas” Isaías 55: 1. 

“necessidade” é uma relação com a sua missão de proclamar a todos, indistintamente, o reino de Deus, plano divino elaborado desde a eternidade. 

Conspiração divina do encontro.

“Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água...” versículo 7.

Aparentemente, a mulher foi ao poço sozinha. Era mais comum que as mulheres fossem buscar água em grupos, ou mais cedo, ou mais tarde no dia, quando o calor do sol não era tão forte. O pedido de Jesus, normalmente, pareceria muito natural para uma mulher que estava tirando água, vindo da parte de um viajante cansado e sedento, mas ela se surpreendeu. Se os seus discípulos estivessem ali teriam tirado água para ele, mas tinham ido comprar comida. Judeus criteriosos na observância da lei teriam receio de se contaminar, comendo alimentos manuseados por samaritanos, ainda mais sendo algo líquido, acreditavam que a possibilidade de contaminação era certa, o que nem sempre acontecia com alimentos secos. 

O que me chama atenção é a conspiração dos fatos. Primeiro, Cristo passar e parar junto a fonte de Jacó. Segundo, uma mulher sozinha indo ao poço ao meio-dia. Terceiro, não ter nenhum discípulo para tirar água, ocasionando em uma única alternativa, a samaritana dar-lhe de beber. 

Em Cristo, vemos a graça de Deus conspirando em favor do homem. Os acontecimentos a nossa volta convergindo para o encontro com Ele, parece que estamos seguindo o caminho natural do nosso dia a dia, nada novo, tudo normal, a vida seguindo seu rumo natural. De repente: Ele aparece! Ele fala! Sem perceber damos de cara com Cristo. Ele está no nosso caminho, está nos vendo diante do cansaço da vida, nos convidando a beber da água que somente Ele pode nos dar. O amor de Deus conspira ao nosso favor. 

A graça do encontro. 

“Não tenho marido...” versículo 17. 

Possivelmente, o fato de ir ao poço sozinha estava ligado a vergonha pública da mulher, seu isolamento pode ser resultado de uma vida emocional desordenada. No verso 17, a mulher foi tomada de surpresa pela mudança abrupta de assunto, ainda mais porque Jesus falou de um ponto crucial em sua vida. Ele era um estrangeiro e não conhecia sua vida, por isso tentou livrar-se dele como uma declaração rude da sua posição atual dizendo, que não tinha marido. Mas, obviamente Jesus sabia de toda sua vida, que sua afirmação carregava parte da verdade e não toda a verdade, logo após sua afirmação, começou a mostrar o quanto sabia sobre ela, sem colocar mais culpa e sofrimento sobre sua existência. 

Ele é gracioso, busca conduzir a conversa para uma sinceridade sobre o passado dela. A opinião rabínica desaprovava mais que três casamentos, mesmo que fossem legalmente permissíveis. Em nenhum momento o objetivo da conversa é conduzir à uma condenação cruel, Jesus queria que a mulher visse a si mesma, como pecadora, morta em seus delitos e pecados, consciente do seu pecado. O segundo passo seria ver a si mesma como alguém que tinha dignidade e valor. Deus nos considera dignos de seus cuidados apesar da nossa ruína. Ele nos valoriza a ponto de procurar-nos, de nos convidar à intimidade e de regozijar-se com sua adoração. 

A graça nos permite entender. A graça nos convida a constatar a nossa real situação. A graça nos convida para uma aceitação pelo Deus da graça. A graça de Deus nos transforma em novas pessoas. 

A revelação do encontro. 

“Como sendo tu judeu...” versículo 9; “Vejo que tu és profeta...”versículo 19; “que há de vir o Messias, chamado Cristo...”versículo 25. 

No início era apenas um judeu pedindo-lhe água. Em um segundo momento, o termo profeta é usado, possivelmente, ela estava a beira da grande descoberta da identidade do estrangeiro, um homem que podia dizer-lhe tudo o que já tinha feito só poderia ser Aquele que vem em pessoa. Então se ele é um profeta, a conversa pode ter um tom religioso. Uma conversa religiosa entre Judeu e Samaritano automaticamente se convergia para o lugar que Deus escolheu para ser adorado, Jerusalém ou Gerizim? 

Quem sabe o que ela não esperava é que sua resposta seria algo que não identificasse adoração a Deus com lugares “santos” específicos. Este estrangeiro, que ela suspeitou ser um profeta, deu instruções sobre o culto verdadeiro. Se ela estava em dúvida sobre sua identidade, tudo esta confirmado. Ele é o Messias! O príncipe prometido de Davi, o mesmo que os samaritanos esperavam como o profeta semelhante a Moisés. 

No começo era apenas um judeu sedento, agora ele já é maior que seu pai Jacó. Aquele que vem em pessoa estava sentado no poço falando de maneira maravilhosa com ela. 

O encontro com Ele nos ambientes comuns e improváveis da vida tem como finalidade, levar o homem a declarar que Ele é o Messias! O Cristo! Que não cabe em uma religião. O seu reino se estabelece no coração dos sedentos, que passa a ser a sua habitação, nos conduzindo à uma adoração em espírito em verdade. 


*Sebastião Junior graduou-se Bacharel em Teologia em 2002 pelo Seminário Presbiteriano Renovado de Cianorte/PR, é pastor desde 2003, pós-graduado pela Faculdade Teológica Sul Americana, DMin (Doctor of Ministry), na área de Missão Urbana e Crescimento de Igreja. Graduado em Sociologia pela UMESP, Universidade Metodista de São Paulo. 

UM ENCONTRO NO CAMINHO.

por Sandro VS

Jesus, ao mesmo tempo em que está seguindo seu caminho, está manifestando este caminho àqueles que vivem sem direção. Neste ponto da jornada Ele encontra alguns que, de tão desorientados, decidiram estacionar em uma “zona de conforto”, oferecida a quem está decidindo parar de caminhar. 

Jesus está em direção a Jerusalém para uma das festas judaicas que o texto não nos identifica e, ao que tudo indica, está sozinho, pois nenhum dos discípulos já caminhantes é mencionado aqui. Entra pelo átrio do templo, mais precisamente pela porta das ovelhas, onde encontra um tanque chamado casa de misericórdia (Betesda). 

Ali jazia uma pequena multidão de inválidos e, entre estes, houve um homem que foi alvo de um inusitado encontro com o caminho. A este foi proposto uma retomada a uma nova jornada, pois, como já disse, ele foi seduzido a estacionar em um cômodo, mas ilusório descanso. 

A PARALISIA, A JORNADA E O CAMINHO. 

Antes de chegarmos ao dialogo entre Jesus e o paralitico devemos entender o que o fez permanecer naquele lugar. 

O misticismo sempre fez parte do imaginário humano, isto é, o mistério e o incompreensível sempre seduziram a humanidade, assim, como não podia deixar de ser, este tipo de crença supersticiosa estava espalhada por todo mundo antigo da mesma maneira em que existe hoje em todos os lugares. Portanto, a ideia de um anjo que de tempos em tempos agitava a água para que o primeiro que se banhasse nela fosse beneficiado de alguma forma não era novidade entre as pessoas. 

Mas, em se tratando de Deus e diante deste texto, deveríamos sempre nos perguntar: Isso faz sentido? Um Deus brincando com a dor alheia? Utilizando-se de anjos e do seu poder para se divertir? 

Quero insistir no argumento e propor a seguinte situação: Pense em alguém com muitos recursos e que pode alimentar todos os mendigos do seu bairro, mas decide colocar uma única cesta básica no alto dos degraus de uma longa escadaria. Então ele convoca todos os mendigos ao pé da escadaria e, lá de cima, ao lado da cesta básica, diz: “quem conseguir subir primeiro esta escadaria e tocar na cesta ficará com ela”. Sádico seria um dos adjetivos que caberiam a alguém assim e, sem sombra de dúvidas, este adjetivo não se aplica a Deus. 

Dito isto, a seguinte pergunta que fazemos é: então por que esta narrativa está no texto bíblico? 

Provavelmente seja muito mais difícil explicar como este relato foi omitido de todos os melhores manuscritos do texto bíblico do que explicar a maneira pela qual foi inserido no texto. 

A resposta está na intenção com a qual este relato foi escrito, ou seja, era uma nota explicativa que ficava na marginal do texto pretendendo elucidar a causa de tantos doentes em volta do tanque, mas, depois de tantas cópias, alguém o incluiu no texto, mas com a mesma intenção, isto é, esclarecer a causa de tantos enfermos reunidos ali. A prova disto é que metade do versículo três e todo o versículo quatro sempre estarão entre colchetes em nossas melhores traduções, assim como também no rodapé da página em que se encontrar o relato em questão sempre haverá o seguinte aviso: O trecho entre colchetes não aparece na maioria dos mss (manuscritos). 

Talvez isso te surpreenda, mas nunca houve anjo que agitasse a água e também nunca houve qualquer poder medicinal naquela água a não ser na cabeça dos doentes que eram vítimas do seu próprio misticismo e da crendice popular, pois João nunca escreveu sobre algum poder sobrenatural no tanque e não citou, em nenhum momento, um aventureiro que tenha se curado, outro fato é que João não narra Jesus fazendo qualquer menção às águas quando conversa com o paralítico. 

Mas o que João deixa claro é que Jesus propõe ao homem exatamente o oposto, ou seja, o convida a seguir um novo caminho tão real quanto quem o curaria da sua paralisia. A pergunta feita por Jesus, “queres ser curado?”, por mais que pareça que tenha sido feita ao homem de forma aleatória, se considerarmos que a regra do tanque era “cada um por si”, não foi, pois parece justo Jesus procurar exatamente alguém que não conseguia andar. A resposta do paralítico não deixa duvida que a esperança que se acendeu em seu coração foi que Jesus seria este bom homem que o levaria até o tanque para um mergulho milagroso, mas o que ele nunca esperou aconteceu, o bom homem tinha muito mais que seus ombros para ceder a ele, suas palavras são tão diretas quanto à pergunta inicial: “levanta, toma teu leito e anda”. 

Mais uma vez o caminho não só propõe uma jornada, mas dá condições para que ela se desenvolva. Este homem, que há 38 anos sofria da paralisia física, recebe uma cura completa, ou seja, além de literalmente poder voltar a andar pôde também retomar uma caminhada que havia interrompido quando cedeu a crença mística da sua alma ao ficar esperando um suposto ato de Deus, por intermédio de anjo imaginário em águas misteriosamente milagrosas. 

Um encontro sincero com o caminho tem este poder, curar nossas deficiências e nos livrar das nossas paralisias intelectuais em nome de superstições sem base e sem entendimento, pois, quem entra no caminho e aceita a jornada, na mesma medida em que é convocado a não aleijar sua fé crendo em contos e fábulas que prometem esquisitices é chamado a crer na sobrenatural simplicidade da jornada, isto é, talvez nem sempre aconteçam milagres, mas nunca deixará de haver caminho e encontros nele. 

O NOVO CAMINHO

por Flávio Santos. 

João 3: 1-21 

A proposta de Jesus para todos os que Dele se aproximam é um caminho pra andar. Na ocasião em que o Mestre Nicodemos vai, à noite, até Jesus, o convite pra andar é feito. Pra andar em um novo caminho! 

O novo caminho é apresentado a Nicodemos como o novo nascimento. Pra andar nele é necessário nascer de novo. Da água e do Espírito. É uma estrada que dá acesso ao reino de Deus. Quando a nova via é percorrida, os olhos se abrem para ver o Reino e suas verdades espirituais. 


O Novo caminho não é compreendido pela religião. 


Nicodemos é um religioso com qualificações invejáveis. Fariseu. Príncipe dos judeus. Mestre de Israel. Com toda a sua sabedoria religiosa, não compreende a simplicidade do caminho. A água que lava a existência. O Espírito que, em soprando, conduz para o Reino de Deus. E a necessidade do nascimento do alto. 

Nicodemos se apresenta diante de Jesus sabendo muito, mas não compreendendo espiritualmente quase nada. Diante das verdades do novo caminho, o mestre fariseu só tem perguntas a fazer. O conhecimento se transforma em interrogações. A sabedoria da carne é humilhada diante da sabedoria do Espírito. A religião não compreende as coisas celestiais. 

Se a religião não compreende o caminho, o que temos a fazer é nos abrir para água que lava os pecados e o peso religioso que nos atrapalha. É erguer as velas da existência e deixar o vento do Espírito nos guiar pelo Caminho, Verdade e Vida. É nascer de novo para o novo caminho. 


O novo caminho se tornou possível porque o Filho do homem percorreu novos caminhos. 


João começa seu Evangelho dizendo que o Verbo se fez carne. Viajou da eternidade para as contingências do tempo. Cruzou os mundos. Desceu no caminho que ninguém poderia subir. O Filho do homem percorreu um novo caminho inaugurando uma nova era. A era da graça. Esvaziou-se de si mesmo e habitou entre os homens. O céu se uniu à terra no Filho do homem. 

Além de percorrer o caminho da eternidade à terra, Jesus percorreu o caminho em direção à Cruz. Percorreu a Via dolorosa. Transformou o caminho de morte em caminho de vida. O caminho de condenação para os homens, percorrido pelo Filho, possibilitou o caminho da salvação. A vida eterna - o novo caminho - é palmilhado com a Cruz nas costas. Quem quiser ir após Ele, tem de carregar a Cruz. 

Jesus, ao percorrer esse novo caminho, foi levado ao lugar onde seria levantado entre os céus e a terra. Foi para Cruz que ele veio. Para morrer pela humanidade. Jesus foi levantado para autenticar que era o Deus-homem. Se tivesse morrido na terra, seria somente homem. Se tivesse voltado para os céus sem a morte, seria somente Deus. Assim, entre os céus e a terra Jesus inaugurou o novo caminho para andar. 

Portanto, para os que se propõe a viver como caminhantes, devem andar em fé. Crer para não perecer na religiosidade e no pecado. O convite de Jesus é para a vida eterna. Uma vida mais que abundante. 


Os três verbos do novo caminho.


O primeiro verbo do novo caminho é amar. Deus amou o mundo. Deus amou a todos indiscriminadamente. Deus amou de tal maneira. Na linguagem de Paulo, constrangedor; largo, comprido, alto e profundo; nada pode nos separar desse amor. 

O segundo verbo do novo caminho é dar. Deus deu o seu filho. Fez uma doação à humanidade. Doou em graça o seu único filho. Deus deu Jesus para que não perecêssemos, mas que tivéssemos a vida eterna. 

O terceiro verbo do novo caminho é enviar. Deus enviou seu Filho para um lugar. O mundo. Para todos os povos, línguas e nações. Deus enviou seu filho com o propósito de salvar a humanidade. Para que condenar o que já está condenado? Assim, o que sempre fica no novo caminho é a fé no unigênito filho de Deus. 

A proposta do novo caminho termina com uma sentença poderosa: 


E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. João 3.19-21

Estamos diante de uma escolha: caminhar em trevas no caminho antigo, ou caminhar em luz no novo caminho. Qual a sua escolha? Eu já fiz a minha: Eu tenho um novo caminho pra andar. O caminho do novo nascimento! 
 CAMINHO

O ÍMÃ DA CRUZ E O MAGNETISMO DO AMOR.

por Sandro VS

O evangelho de João não narra a angustia do Getsêmani, mas nos dá sérios sinais da pressão da cruz proposta a Jesus aqui. 

A resposta em forma de pergunta, "Pai salva-me desta hora?", tinha a intenção de apontar que a hora a que Jesus se refere era a da cruz, o momento crítico da salvação dos eleitos.

Por isso a exclamação convicta, "Pai glorifica teu nome!", é a resposta final de Jesus a qualquer receio às implicações da crucificação. 

A confirmação de que a cruz era determinante para concretizar o resgate destes escolhidos veio por meio de uma voz, a mesma voz que, pelo seu poder, trouxe o tudo do nada e que, mais uma vez, transformaria o caos em vida, fazendo nascer, do caos do pecado, novas criaturas, ou seja, entre o caos e a vida surge sempre a voz de Deus. 

A verdade desta afirmação está exatamente no fato de Jesus garantir que a voz não soou por sua causa, mas por causa dos que ouvem e confiam em suas palavras, pois, ao enfrentar a cruz por estes, Jesus não só estabeleceria o fracasso iminente do pecado destes, como também a queda do seu maior fomentador, o príncipe deste mundo. 

Mas, ao afirmar que seria levantado em uma cruz, a primeira reação dos ouvintes é aquela instalada em corações que anseiam por um herói, isto é, entendiam que o Cristo seria o líder invencível que dirigiria os irresistíveis exércitos celestiais contra as nações inimigas e estabeleceria um reino prepotente e arrogante contra estes. 

Não podiam crer que para a eternidade do reino invadir a história era necessário que o seu Rei experimentasse a morte para enfim vencê-la em uma cruz na história. 

Mas o que o Cristo diz a respeito de como este plano se aplica é que é impressionante! 

Ao sofrer todas as dores referentes à crucificação e por fim ficar pendurado nela, Jesus afirma que um magnetismo atrairia todos os que foram levados a confiar em tudo o que ele dissera.

Assim, o que fica afirmado na cruz é que, diferente das conquistas procedentes das guerras, os resultados obtidos por ela são eternos e imutáveis. 

É inegável que impérios erguidos sobre a força e o poder desaparecem e que o que resta deles é só lembrança, entretanto, o Reino de Cristo, baseado sobre uma cruz, estende-se mais e mais. 

Como escreve William Barclay em seu comentário: "Nínive e Tiro não são mais que nomes, mas Cristo ainda vive"

Jesus diz que atrairia a si os seus por meio de um magnetismo irresistível originário de uma cruz que atua na história como um imã resgatador e o faz na certeza de que o amor sempre continuará vivendo muito tempo depois do desaparecimento do poder e da força. 

Assim como o imã inevitavelmente atrai por meio do magnetismo apenas os metais, a cruz adquiri para si apenas os que o amor conquista. 

APENAS o EVANGELHO da cruz propõe amor em lugar de poder e garante segurança. 


Soli Deo Glória! 

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