O CAMINHO MAIS CURTO PARA O ENCONTRO!
por Sebastião Júnior*
Estamos
diante de um encontro improvável de um judeu com uma samaritana, digo isso,
porque, normalmente, a antipatia entre os dois não permitiria que judeus,
passando pela Judéia, a caminho da Galiléia, passasse por Samaria. A opção do
caminho não seria o que Jesus fez, mesmo sendo o caminho mais curto; tanto os
judeus, como os samaritanos fariam a opção por outro caminho, uma rota pela
Transjordânia. Tão grande era aversão uns pelos outros.
Após os
assírios conquistarem Samaria todos os israelitas foram despojados de suas
posses, a terra foi sendo povoada com estrangeiros que se casaram com os
israelitas sobreviventes e aderiram, de alguma forma, à antiga religião
assíria.
Após o
exílio, os judeus voltam para Jerusalém e ao constatar o surgimento dos
samaritanos, passam a tê-los como rebeldes políticos, como mestiços raciais,
cuja religião estava manchada por vários elementos inaceitáveis. Tais como:
levantaram um templo rival no monte Gerizim, que depois foi destruído pelo
governo Judeu, intensificando os conflitos religiosos e teológicos; os
samaritanos tinham sua própria herança religiosa baseada no Pentateuco, não
aceitavam os outros livros da Bíblia hebraica como canônicos; e, sua adoração
acontecia no monte Gerizim e não em Jerusalém.
Para entendermos
o significado desse encontro, é fundamental conhecer a distância cultural,
religiosa e teológica de Jesus com a Samaritana. Não são apenas alguns
kilometros que a rota da Transjordânia proporcionava evitar, estamos falando de
um conflito que somente o evangelho pode cessar.
Agenda
disponível para o encontro.
“Era lhe
necessário...” versículo 4.
Não é apenas
uma necessidade geográfica, ou física do verbo que realmente se tornou carne,
evidenciando sua humanidade como um viajante cansado procurando descanso e
refrigério ao meio-dia, sentou-se para descansar.
Interessante
que é em meio ao cansaço do Mestre que descansamos, diante da nossa caminhada
pesada pelo fardo que carregamos. Sua agenda não esta no campo da urgência, de
alguém que não para, não ouve, pelo contrario, a sua agenda é um convite para
descansarmos nele. A beleza da graça de Deus está nisso, que, em Cristo, o véu
se rasgou, e Deus não é mais alguém que se encontra através dos caminhos
religiosos, Ele está a beira do poço, se revelando para pecadores cansados.
Nenhuma religião, cultura, geografia são donos de sua agenda. O caminho está
aberto para os sedentos, como diz o profeta “Vós que tendes sede, vinde
ás águas” Isaías 55: 1.
A “necessidade” é
uma relação com a sua missão de proclamar a todos, indistintamente, o reino de
Deus, plano divino elaborado desde a eternidade.
Conspiração
divina do encontro.
“Nisto, veio
uma mulher samaritana tirar água...” versículo 7.
Aparentemente,
a mulher foi ao poço sozinha. Era mais comum que as mulheres fossem buscar água
em grupos, ou mais cedo, ou mais tarde no dia, quando o calor do sol não era
tão forte. O pedido de Jesus, normalmente, pareceria muito natural para uma
mulher que estava tirando água, vindo da parte de um viajante cansado e
sedento, mas ela se surpreendeu. Se os seus discípulos estivessem ali teriam
tirado água para ele, mas tinham ido comprar comida. Judeus criteriosos na
observância da lei teriam receio de se contaminar, comendo alimentos manuseados
por samaritanos, ainda mais sendo algo líquido, acreditavam que a possibilidade
de contaminação era certa, o que nem sempre acontecia com alimentos
secos.
O que me
chama atenção é a conspiração dos fatos. Primeiro, Cristo passar e parar junto
a fonte de Jacó. Segundo, uma mulher sozinha indo ao poço ao meio-dia.
Terceiro, não ter nenhum discípulo para tirar água, ocasionando em uma única
alternativa, a samaritana dar-lhe de beber.
Em Cristo,
vemos a graça de Deus conspirando em favor do homem. Os acontecimentos a nossa
volta convergindo para o encontro com Ele, parece que estamos seguindo o
caminho natural do nosso dia a dia, nada novo, tudo normal, a vida seguindo seu
rumo natural. De repente: Ele aparece! Ele fala! Sem perceber damos de cara com
Cristo. Ele está no nosso caminho, está nos vendo diante do cansaço da vida,
nos convidando a beber da água que somente Ele pode nos dar. O amor de Deus
conspira ao nosso favor.
A graça do
encontro.
“Não tenho
marido...” versículo 17.
Possivelmente,
o fato de ir ao poço sozinha estava ligado a vergonha pública da mulher, seu
isolamento pode ser resultado de uma vida emocional desordenada. No verso 17, a
mulher foi tomada de surpresa pela mudança abrupta de assunto, ainda mais
porque Jesus falou de um ponto crucial em sua vida. Ele era um estrangeiro e
não conhecia sua vida, por isso tentou livrar-se dele como uma declaração rude
da sua posição atual dizendo, que não tinha marido. Mas, obviamente Jesus sabia
de toda sua vida, que sua afirmação carregava parte da verdade e não toda a
verdade, logo após sua afirmação, começou a mostrar o quanto sabia sobre ela,
sem colocar mais culpa e sofrimento sobre sua existência.
Ele é
gracioso, busca conduzir a conversa para uma sinceridade sobre o passado dela.
A opinião rabínica desaprovava mais que três casamentos, mesmo que fossem
legalmente permissíveis. Em nenhum momento o objetivo da conversa é conduzir à
uma condenação cruel, Jesus queria que a mulher visse a si mesma, como
pecadora, morta em seus delitos e pecados, consciente do seu pecado. O segundo
passo seria ver a si mesma como alguém que tinha dignidade e valor. Deus nos
considera dignos de seus cuidados apesar da nossa ruína. Ele nos valoriza a
ponto de procurar-nos, de nos convidar à intimidade e de regozijar-se com sua
adoração.
A graça nos
permite entender. A graça nos convida a constatar a nossa real situação. A
graça nos convida para uma aceitação pelo Deus da graça. A graça de Deus nos
transforma em novas pessoas.
A revelação
do encontro.
“Como sendo
tu judeu...” versículo 9; “Vejo que tu és profeta...”versículo 19; “que há de
vir o Messias, chamado Cristo...”versículo 25.
No início
era apenas um judeu pedindo-lhe água. Em um segundo momento, o termo profeta é
usado, possivelmente, ela estava a beira da grande descoberta da identidade do
estrangeiro, um homem que podia dizer-lhe tudo o que já tinha feito só poderia
ser Aquele que vem em pessoa. Então se ele é um profeta, a conversa pode ter um
tom religioso. Uma conversa religiosa entre Judeu e Samaritano automaticamente
se convergia para o lugar que Deus escolheu para ser adorado, Jerusalém ou
Gerizim?
Quem sabe o
que ela não esperava é que sua resposta seria algo que não identificasse
adoração a Deus com lugares “santos” específicos. Este
estrangeiro, que ela suspeitou ser um profeta, deu instruções sobre o culto
verdadeiro. Se ela estava em dúvida sobre sua identidade, tudo esta confirmado.
Ele é o Messias! O príncipe prometido de Davi, o mesmo que os samaritanos
esperavam como o profeta semelhante a Moisés.
No começo
era apenas um judeu sedento, agora ele já é maior que seu pai Jacó. Aquele que
vem em pessoa estava sentado no poço falando de maneira maravilhosa com
ela.
O encontro
com Ele nos ambientes comuns e improváveis da vida tem como finalidade, levar o
homem a declarar que Ele é o Messias! O Cristo! Que não cabe em uma religião. O
seu reino se estabelece no coração dos sedentos, que passa a ser a sua
habitação, nos conduzindo à uma adoração em espírito em verdade.
*Sebastião
Junior graduou-se Bacharel em Teologia em 2002 pelo Seminário Presbiteriano
Renovado de Cianorte/PR, é pastor desde 2003, pós-graduado pela Faculdade
Teológica Sul Americana, DMin (Doctor of Ministry), na área de Missão Urbana e
Crescimento de Igreja. Graduado em Sociologia pela UMESP, Universidade
Metodista de São Paulo.
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