Por esta os Ateus não esperavam (O Tempora, O Mores)
Um número razoável de cientistas e filósofos ateus ou agnósticos vem em anos
recentes engrossando as fileiras daqueles que expressam dúvidas sérias sobre a
capacidade da teoria da evolução darwinista para explicar a origem da vida e sua
complexidade por meio da seleção natural e da natureza randômica ou aleatória
das mutações genéticas necessárias para tal.
Poderíamos citar Anthony Flew, o mais notável intelectual
ateísta da Europa e Estados Unidos que no início do século XXI anunciou sua
desconversão do ateísmo darwinista e adesão ao teísmo, por causa das evidências
de propósito inteligente na natureza. Mais recentemente o biólogo molecular
James Shapiro, da Universidade de Chicago, ele mesmo também ateu, publicou o
livro Evolution: A View from 21st Century onde desconstrói impiedosamente
a evolução darwinista.
![]() |
Thomas Nagel |
Estou mencionando estes intelectuais e cientistas ateus por
que quando intelectuais e cientistas cristãos declaram sua desconfiança quanto à
evolução darwinista são descartados por serem "religiosos". Então, tá. Mas, e
quando os próprios ateus engrossam o coro dos dissidentes?
Neste post eu gostaria apenas de destacar algumas declarações de Nagel no livro que revelam a consciência clara que ele tem de que uma concepção puramente materialista da vida e de seu desenvolvimento, como a evolução darwinista, é incapaz de explicar a realidade como um todo. Embora ele mesmo rejeite no livro a possibilidade de que a realidade exista pelo poder criador de Deus, ele é capaz de enxergar que a vida é mais do que reações químicas baseadas nas leis físicas e descritas pela matemática. A solução que ele oferece – que a mente sempre existiu ao lado da matéria – não tem qualquer comprovação, como ele mesmo admite, mas certamente está mais perto da concepção teísta do que do ateísmo materialista do darwinismo.
Neste post eu gostaria apenas de destacar algumas declarações de Nagel no livro que revelam a consciência clara que ele tem de que uma concepção puramente materialista da vida e de seu desenvolvimento, como a evolução darwinista, é incapaz de explicar a realidade como um todo. Embora ele mesmo rejeite no livro a possibilidade de que a realidade exista pelo poder criador de Deus, ele é capaz de enxergar que a vida é mais do que reações químicas baseadas nas leis físicas e descritas pela matemática. A solução que ele oferece – que a mente sempre existiu ao lado da matéria – não tem qualquer comprovação, como ele mesmo admite, mas certamente está mais perto da concepção teísta do que do ateísmo materialista do darwinismo.
Ele deixa claro que sua crítica procede de sua própria
análise científica e que mesmo assim não será bem vinda nos círculos
acadêmicos:
“O meu ceticismo [quanto ao evolucionismo darwinista] não é baseado numa crença religiosa ou numa alternativa definitiva. É somente a crença de que a evidência científica disponível, apesar do consenso da opinião científica, não exige racionalmente de nós que sujeitemos este ceticismo [a este consenso] neste assunto” (p. 7).
“Eu tenho consciência de que
dúvidas desta natureza vão parecer um ultraje a muita gente, mas isto é porque
quase todo mundo em nossa cultura secular tem sido intimidado a considerar o
programa de pesquisa reducionista [do darwinismo] como sacrossanto, sob o
argumento de que qualquer outra coisa não pode ser considerada como ciência”
(p.7).
Ele profetiza o fim do naturalismo materialista, o
fundamento do evolucionismo darwinista:
“Mesmo que o domínio [no campo
da ciência] do naturalismo materialista está se aproximando do fim, precisamos
ter alguma noção do que pode substitui-lo” (p. 15).
Para ele, quanto mais descobrimos acerca da complexidade da
vida, menos plausível se torna a explicação naturalista materialista do
darwinismo para sua origem e desenvolvimento:
“Durante muito tempo eu tenho
achado difícil de acreditar na explicação materialista de como nós e os demais
organismos viemos a existir, inclusive a versão padrão de como o processo
evolutivo funciona. Quanto mais detalhes aprendemos acerca da base química da
vida e como é intrincado o código genético, mais e mais inacreditável se torna a
explicação histórica padrão [do darwinismo]” (p. 5).
“É altamente implausível, de
cara, que a vida como a conhecemos seja o resultado da sequência de acidentes
físicos junto com o mecanismo da seleção natural” (p. 6).
Não teria havido o tempo necessário para que a vida
surgisse e se desenvolvesse debaixo da seleção natural e mutações
aleatórias:
“Com relação à evolução, o
processo de seleção natural não pode explicar a realidade sem um suprimento
adequado de mutações viáveis, e eu acredito que ainda é uma questão aberta se
isto poderia ter acontecido no tempo geológico como mero resultado de acidentes
químicos, sem a operação de outros fatores determinando e restringindo as formas
das variações genéticas” (p. 9).
Nagel surpreendentemente defende os proponentes mais
conhecidos do design inteligente:
“Apesar de que escritores como
Michael Behe e Stephen Meyer<!--[if
!supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
sejam motivados parcialmente por suas convicções religiosas, os argumentos
empíricos que eles oferecem contra a possibilidade da vida e sua história
evolutiva serem explicados plenamente somente com base na física e na química
são de grande interesse em si mesmos... Os problemas que estes iconoclastas
levantam contra o consenso cientifico ortodoxo deveriam ser levados a sério.
Eles não merecem a zombaria que têm recebido. É claramente injusta”
(p.11).
Num parágrafo quase confessional, Nagel reconhece que lhe
falta o sentimento do divino que ele percebe em muitos outros:
“Confesso um pressuposto meu
que não tem fundamento, que não considero possível a alternativa do design
inteligente como uma opção real – me falta aquele sensus divinitatis
[senso do divino] que capacita – na verdade, impele – tantas pessoas a ver no
mundo a expressão do propósito divina da mesma maneira que percebem num rosto
sorridente a expressão do sentimento humano” (p.12).
Para Nagel, o evolucionismo darwinista, com sua visão
materialista e naturalista da realidade, não consegue explicar o que transcende
o mundo material, como a mente e tudo que a acompanha:
“Nós e outras criaturas com
vida mental somos organismos, e nossa capacidade mental depende aparentemente de
nossa constituição física. Portanto, aquilo que explicar a existência de
organismos como nós deve explicar também a existência da mente. Mas, se o mental
não é em si mesmo somente físico, não pode, então, ser plenamente explicado pela
ciência física. E então, como vou argumentar mais adiante, é difícil evitar a
conclusão que aqueles aspectos de nossa constituição física que trazem o mental
consigo também não podem ser explicados pela ciência física. Se a biologia
evolutiva é uma teoria física – como geralmente é considerada – então não pode
explicar o aparecimento da consciência e de outros fenômenos que não podem ser
reduzidos ao aspecto físico meramente” (p. 15).
“Uma alternativa genuína ao
programa reducionista [do darwinismo] irá requerer uma explicação de como a
mente e tudo o que a acompanha é inerente ao universo” (p.15).
“Os elementos fundamentais e as
leis da física e da química têm sido assumidos para se explicar o comportamento
do mundo inanimado. Algo mais é necessário para explicar como podem existir
criaturas conscientes e pensantes, cujos corpos e cérebros são feitos destes
elementos” (p.20).
Menciono por último a perspicaz observação de Nagel, que se
a mente existe porque sobreviveu através da seleção natural, isto é, por ter se
tornado na coisa mais esperta para sobreviver, como poderemos confiar nela? E
aqui ele cita e concorda com Alvin Plantinga, um filósofo reformado
renomado:
“O evolucionismo naturalista
provê uma explicação de nossas capacidades [mentais] que mina a confiabilidade
delas, e ao fazer isto, mina a si mesmo” (p. 27).
“Eu concordo com Alvin
Plantinga que, ao contrário da benevolência divina, a aplicação da teoria da
evolução à compreensão de nossas capacidades cognitivas acaba por minar nossa
confiança nelas, embora não a destrua por completo. Mecanismos formadores de
crenças e que têm uma vantagem seletiva no conflito diário pela sobrevivência
não merecem a nossa confiança na construção de explicações teóricas do mundo
como um todo... A teoria da evolução deixa a autoridade da razão numa posição
muito mais fraca. Especialmente no que se refere à nossa capacidade moral e
outras capacidades normativas – nas quais confiamos com frequência para corrigir
nossos instintos. Eu concordo com Sharon Street [professora de filosofia na
Universidade de Nova York] que uma auto-compreensão evolucionista quase que
certamente haveria de requerer que desistíssemos do realismo moral, que é a
convicção natural de que nossos juízos morais são verdadeiros ou falsos
independentemente de nossas crenças” (p.28).
Não consegui ler Nagel sem lembrar do que a Bíblia
diz:
"Tudo fez Deus formoso no seu
devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa
descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim" (Eclesiastes
3:11).
"De um só Deus fez toda a raça
humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos
previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus
se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de
nós" (Atos 17:26-27).
Nagel tem o sensus divinitatis, sim, pois o mesmo é
o reflexo da imagem de Deus em cada ser humano, ainda que decaídos como somos.
Infelizmente o seu ateísmo o impede de ver aquilo que sua razão e consciência,
tateando, já tocaram.
Texto do Blog: O Tempora, O Mores: http://tempora-mores.blogspot.com.br/2013/01/coisas-que-ate-um-ateu-pode-ver.html
0 comentários:
Postar um comentário